Pra direita, um esboço de praça e restinhos de vila. Pra esquerda, o bairro gentrificado, o tráfego de avenida e a vila que já não é vila, como escreveu Aldir Blanc.
Esquerda, afinal. Entre dois condomínios, um portão sopra o R arrastado do interior e guarda um trecho anacrônico de terra batida.
Ao lado do hipermercado, uma casinha operária assentada por mãos imigrantes que para sua própria casa nunca puderam voltar. É praquela direção que a rua leva quem se atreve a caminhar por uma via de passagem, não de paragem – e, muito menos, de paisagem. Ainda assim, até o vento sopra a promessa de contar histórias melhores do que as do trânsito.
O semáforo abre, atravesso. A gente se esquece que paisagem às vezes se faz num som inesperado de correnteza. E é caminhando por essa passarela estreita, pedestre e quase apagada que enfim se vê o rio da minha aldeia.

Quanta beleza e movimento numa descrição!
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Oba! Que bom que você gostou 🙂
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ler teus textos, estética e forma essenciais, é entrar em um universo único, onde imaginário e realidade andam de mãos dadas. maravilhoso na descrição e infinito no pensar. o me abraço.
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Grata pelo olhar tão atento e generoso. Foi um exercício de “volta no quarteirão em 1500 caracteres” – achei válido colar num imaginário rural e remoto para que a caminhada não parecesse um inventário do IBGE 🙂
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