[notas insones] Jayme Ovalle

Ovalle foi às lágrimas quando estava na casa do Bandeira e descobriu que o próprio Bandeira fazia seu café – e não uma esposa, namorada ou mesmo uma empregada. Bandeira obviamente nunca tinha visto a própria solidão do modo como Ovalle a viu, talvez nem mesmo a considerasse solidão. Mesmo assim, pegou o mote e escreveu o “Poema só para Jayme Ovalle” – “só” podendo significar “exclusivo” para Ovalle, mas também “poema só”, como um “poema solitário”, que resume a solidão que Ovalle sentiu. Ou, ainda, “poema” se referindo a uma poesia que apenas Ovalle viu e verá. 


Ou seja, o poema se faz já naquilo que o leitor resolve enfatizar na leitura do título. Mas também se faz na solidão que Ovalle (e só Ovalle) associa ao café. Sem essa história de bastidores, Bandeira não acha que o poema possa ser considerado poema por nenhum de nós – tanto que quase o deixou de fora do livro Belo belo.

Alguns ensaios, como o do grande Davi Arrigucci Jr., mostram como esse poema é cheio de dentros e foras, de escuros, de calor e frio.

O poema termina assim:

“Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando
– Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.”

Bonito demais quando a solidão que só Ovalle viu se torna a perspectiva do eu lírico.

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